Vocações do Ceará
O que fazer quando não podemos transformar nossa cidade ou estado numa Paris? Que tal olhamos para o nosso próprio umbigo.
Ao debruçar na janela vemos que o movimento que passa lá fora é tão encantador que esquecemos da panela que queima. É mais ou menos assim que as coisas funcionam no desenvolvimento de algumas ideias. Quando o homem resolveu ir a lua, nem imaginava que a terra era azul, só depois de se “enxergar”, de longe, foi que resolveu construir satélites para compreender a terra.
Através do design do comportamento cultural, vemos quantas vocações uma cidade ou estado tem de sobra e o quanto podemos desenvolver sem precisamos importar influencias culturais de outros lugares do mundo. Por exemplo: Por que nossas escolas não estimulam a prática dos esportes com velas, se reconhecidamente, pelas revistas especializadas, somos o estado com o melhor vento do mundo? Em vez disso, insistimos em dar aulas de handebol nas escolas públicas. Nesse exemplo vemos o quanto podemos fazer para aprimorar e melhorar algumas práticas que envolvem a educação, a economia das cidades e dos estados.
Levar crianças para desenvolver atividades na praia é muito mais saudável que dentro de uma sala de aula. Então, por que não promovermos a prática do Kite surf para os alunos nas escolas? Isso poderia levar as escolas a outras atividade afins, como a natação, corridas na areia e o desenvolvimento do equilíbrio. Muitas academias locais, avançadas, usam a praia para os exercício out door, formando circuitos com várias atividades na areia, incentivando a prática do slackline (atividade de baixo custo e extremamente saudável) e o beach tênis (um exemplo de sucesso, assim como foi Vôlei e o futebol de areia). Em vários países do mundo, a prática de esporte de praia é um grande negócio. Na Turquia, por exemplo, o vôlei de praia é a grande aposta do momento, o governo construiu várias quadras de praias artificiais, para a prática do esporte, com foco no vôlei de praia e nos campeonatos mundiais. O Ceará já foi, por vários anos, a “terra” do vôlei de praia, e nós temos de sobra, tanto praias como títulos. Já fomos referência no esporte. Fortaleza tem vocação para ser o maior centro de formação de atletas do Vôlei, do futebol de praia, do Kite surf, do Wind e de outros esportes do mesmo universo. Os principais elementos, vento, temperatura e praia nos temos o ano inteiro. Se olharmos para o turismo, o Ceará que sempre é destaque na imprensa mundial por suas belas praias pode vir a ser reconhecido como o estado “point” dos esportes de praia e isso pode refletir nos números da economia. O Havaii é um exemplo com o surf, levando milhares de pessoas por ano em busca das ondas perfeitas, e por conta disso, gerando um turismo sem sazonalidade e uma riqueza que sustenta toda a ilha. Atrair esportista dessa natureza para o estado pode gerar mais fluxo para os hotéis nos períodos de baixa ocupação, sem falar do intercâmbio cultural dos nossos atletas locais com o resto do mundo.
O artesanato, é um caminho paralelo a essa atividade esportiva, se usarmos a vocação como plataforma e se estudarmos a história da cultura cearense, com foco nas atividades manuais, veremos que a costura, o bordado e a renda eram práticas quase unânimes nas casas cearenses, vocação que nos levou, em outra época, ao segundo lugar no mercado têxtil nos anos 80, perdendo em seguida por conta de um acidente aéreo que levou os maiores expoentes do mercado, mesmo assim, a tragédia não afetou a vocação do estado, ao contrário disso, renasceu com a mesma vitalidade e a mesma força, nas ruas do centro da cidade, ou no novos exemplos de fábricas de moda íntima e praia que agora tomam conta do mercado nacional. Por que não investir nisso desde a base, nas escolas ou nas universidades?
Se olharmos para a nossa culinária, veremos o quanto poderíamos fazer. Nós somos exportadores de cozinheiros e garçons para todos os melhores restaurantes do Brasil, somos referencia no assunto da mesma forma que a França é para o resto do mundo na formação de grandes chefes da culinária. Nossas escolas e universidades deveriam ser as melhores formadoras de profissionais da área, reforçando a vocação que é já vem no DNA. Deveríamos produzir mais conteúdos sobre o assunto, provocar um turismo gastronômico e eventos na mesma natureza.
No Humor nós somos quase unanimidade, todos os maiores humoristas, os grandes, os que fizeram história no pais, nasceram no nosso estado. Chico Anísio, Renato Aragão, Tom Cavalcante, dentre outros, fizeram e fazem escola para muitos outros profissionais. O cearense é um desbravador, um aventureiro, sabe que fazer uma boa comida é tão arriscado quanto saber contar uma boa piada. Depois de alinhavar a vela, confeccionar seus cestos para os peixes e passar horas, dias, driblando os ventos e as forças das ondas, ele acredita que compartilhar uma boa comida com os amigos é tão elementar quanto contar uma boa piada.
Se observamos mais atentamente, todas as vocações se relacionam entre si. Nesse raciocínio, deveríamos ter fábricas de velas para o Kit surf, fábricas de pranchas. Poderíamos ser a referência em produção de insumos para o esporte já que temos laboratórios de sobra para testar os produtos. Qualificaríamos o turismo e consequentemente teríamos hotéis preparados para esse visitante. Teríamos ainda mais, produção e venda do artesanato local e a propagação da comida cearense junto com o bom humor dos profissionais cearenses pelo mundo.
Talvez já tenhamos um pouco disso, mas é insignificante perto do que poderíamos ser, temos isso através de esforços individuais dos nossos empreendedores que se arriscam sem nenhuma formação técnica ou sem a integração da classe.
Analisar os problemas do estado através das vocações pode parecer simples, mas seria extremamente valioso enxergar as virtudes do nosso povo e da nossa terra com um outro olhar, ver o quanto poderíamos fazer entendendo seus calos e suas rachaduras. Só mergulhando fundo nas habilidades e no que sua terra pode proporcionar, poderemos encontrar respostas tão simples quanto ver que a terra é azul.